De todos os filmes que estão concorrendo ao Oscar de melhor filme, talvez o singelo, barato e praticamente inexpressivo 'Inverno da Alma' (Winter's Bone) tenha passado despercebido sobre os holofotes apontados para a disputa 'A Rede Social' vs. 'O Discurso do Rei'. Não é para menos: o filme, dentre todos os dez que estão concorrendo a estatueta mais cobiçada da noite, é considerado o azarão da disputa, o geek na turma dos atletas, o filme que está, er... deslocado. E motivos para isso não faltam: vão desde o seu baixo orçamento (estimado em 2 milhões de dólares, contra os 15 milhões de ‘O Discurso do Rei’ e os 160 milhões - !!! – de ‘A Origem’), passam pelo seu elenco composto quase que completamente de novos atores e desaguam em seu estilo de filme noir moderno que, convenhamos, não é lá muito a cara da Academia.

O tom do filme é extremamente melancólico. Li na resenha do Omelete que “(...)há uma casca de "filme de festival" que impede que esta adaptação do romance de Daniel Woodrell se movimente com mais naturalidade(...)”, mas sou obrigado a discordar do comentário. Creio que o tom – por vezes truncado – dado à história é quase que obrigatório para torná-lo mais profundo e absorver mais o espectador. Seja por sua trilha sonora quase que ausente, por seus cenários gélidos minimamente fotografados ou sua câmera estática, que sempre acompanha Jennifer Lawrence aonde quer que ela vá, o filme cumpre bem o papel de soar melancólico. Em ‘Inverno da Alma’ o que conta é a hipérbole do desespero, é a falta de ter em quem se apoiar na hora de conseguir atingir seus objetivos e em segurar-se naquilo mais improvável para ter sucesso. Um tapa na cara de todo aquele american way of life vendido para os adolescentes.
Creio que o filme não leve nenhuma das quatro categorias em que concorre (filme, atriz principal, ator coadjuvante e roteiro adaptado), mas considero-o uma das boas surpresas das indicações desse ano. É mais uma prova de que filmes baratos não são sinônimos de filmes ruins (outros exemplos sempre vêm pra provar essa teoria, de ‘Pequena Miss Sunshine’ e ‘Juno’ ao surpreendente vencedor de 2004, ‘Crash’) e que fazer cinema é uma arte que envolve menos pirotecnia e mais competência na hora de fazer uma boa história. Um filme altamente recomendado para aqueles que têm o coração um pouquinho mais duro e que aguentam situações extremas sem se acabarem em lágrimas ou em desesperança.
Pela sua resenha animei de ver sim! Até bem mais do que estava quando vi o pôster/trailer...
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