segunda-feira, 25 de outubro de 2010

A Passagem - Justin Cronin

De uns tempos para cá, o mercado editorial de ficção especulativa (que engloba fantasia, ficção científica, terror e outras ótimas bizarrices) vêm crescendo de uma forma assustadoramente boa. Grande parte desses lançamentos tem um público-alvo específico: geralmente jovens, dos seus doze aos dezesseis anos, que ainda estão se acostumando com a literatura e querem ver coisas que despertem o seu interesse imediato. Aí entram vampiros que se apaixonam, manuais de sobrevivência para se adequar a um mundo de zumbis, escolas de bruxos, anjos versus demônios, etc, etc e etc.

No meio de todos esses livros com adolescentes cheias de amor pra dar e hormônios a flor da pele, talvez o livro ‘A Passagem’ tenha passado despercebido. Não sei exatamente por qual motivo não se falou muito sobre esse lançamento. Talvez seja sua capa, que mais parece uma continuação do livro ‘A Cabana’ do que qualquer outra coisa; ou quem sabe a sua tímida divulgação por parte da editora Sextante; ou ainda por não se adequar exatamente a esse mercado adolescente que já mencionei.

O livro tem tudo para fazer sucesso: um enredo interessante, comentários positivos de autores consagrados – como a recomendação do mestre do terror Stephen King logo na quarta capa do livro – e um texto fluido e cativante logo nas primeiras páginas.

Vamos a ele: “A Passagem” (Editora Sextante, 2010, 815p.) se passa em um universo pós-apocalíptico, onde um grupo de sobreviventes tenta conviver em harmonia com um mundo hostil e infestado de vampiros.

É isso o que diz a sinopse, mas essa é apenas a segunda parte dessa história. O livro, na verdade, começa de modo tímido e suave, desconstruindo um pouco a ação e a velocidade que a sinopse promete. Logo nas primeiras páginas, somos apresentados à garotinha Amy, a Garota de Lugar Nenhum, Aquela Que Surgiu, A Primeira, Última e Única, a que viveu mil anos (e não se preocupem que nada disso é spoiler, pois está logo no primeiro parágrafo do livro). Amy é uma menina rodeada de mistérios que logo se vê transformada na décima terceira e última cobaia de um projeto governamental denominado Projeto Noé, que consiste em analisar o comportamento de um vírus que, a princípio, trataria doenças e serviria como ‘fonte da juventude’ para a humanidade. Para esse propósito, doze criminosos no corredor da morte (e Amy) são destacados para servirem de cobaias humanas. O vírus dá longevidade anormal, resistência a doenças, força e inteligência acima da média, mas possui efeitos colaterais, tais como hipersensibilidade a luz e um único ponto fraco localizado logo abaixo do esterno.

Aí acontece o que todo mundo espera que aconteça: dá merda. As cobaias escapam e se espalham pelo globo, fazendo aquilo que mais gostam: caçar e infectar outros humanos. Pouco a pouco, Amy, na companhia do agente do FBI Wolgast, vê o mundo se transformar em um lugar perigoso e hostil à sobrevivência humana.

Só então chegamos à segunda parte do livro (e lá se vão umas 300 ou 400 páginas): passam-se uma centena de anos e somos apresentados a uma colônia humana perdida no meio do nada, protegida por muros e eletricidade precária, prontas a atirar em qualquer vampiro que passe de certo ponto. Ou, como eles mesmo dizem quando se referem às criaturas, ‘virais’, ‘saltadores’ ou ‘fumaças’. As denominações são variadas.

Mas paro de falar no enredo por aqui para não estragar possíveis surpresas. Prefiro me ater ao que realmente interessa: afinal, ‘A Passagem’ é um livro de qualidade? Merece ser lido? É original?

Como os últimos serão os primeiros, vamos tratar primeiro da originalidade da trama: aos meus olhos pouco treinados, a sinopse me pareceu uma cópia em xilogravura de Resident Evil: a Umbrella Corporation o governo faz um experimento com um T-vírus vírus, ele foge ao controle e cria uma horda de zumbis vampiros sanguinários e sedentos por alimento. Uma garota chamada Alice Amy, no entanto, mantém todas as vantagens e poucas desvantagens de ser infectada.

(o parágrafo acima foi feito com base nos filmes pela total inabilidade deste que vos fala em jogar algum jogo de zumbis até o fim)

Apesar da falta de originalidade evidente, o livro, como já comentei, possui uma escrita agradável e fácil, daquelas que o leitor pega e só larga quando os olhos não aguentam mais ler. E grande parte desse cativo se dá por conta dos personagens: eles sim são cuidadosamente construídos e muito bem guiados pelo autor. Apesar de alguns servirem de figuração e serem mero gado de saltadores, os principais estão ali, com seus dramas e suas dúvidas, suas imersões e suas reflexões sobre o futuro, seus medos com o que está do outro lado do muro e de até quando conseguirão sobreviver sob aquelas condições precárias.

Se você está procurando um livro que mude a sua vida e seja uma primazia de originalidade, talvez “A Passagem” te decepcione um pouco. Mas se você quer ler para se distrair, se empolgar com uns tiros e uns bons sustos literários, vale muito a pena desembolsar uma graninha por ele.

P.S. Aos cinéfilos de plantão, fiquem ligados na cena em que o grupo assiste ao filme ‘Drácula’, de Ted Browning. Por ser o único filme disponível no acervo, o grupo que o assiste repete cada fala de cor, de começo rindo e levando pouco a sério, mas pouco a pouco imergindo no filme até que todos o estejam contemplando de forma total e absoluta. Uma das melhores cenas do livro, certamente.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Culpa é do Fidel!

Bem, sei que estou a um tempo considerável sem postar nada por aqui. Eu devo desculpas aos meus dois leitores e meio e não tenho nenhuma justificativa que não seja preguiça. Mas devo jurar, senão a mim mesmo, pelo menos a vocês que me leem, que pretendo deixar as coisas aqui mais... periódicas. Estou até bolando uma listinha de quando escrever e o que escrever, mas não vou colocá-la agora por ainda estar em fase de teste.

Desculpas colocadas, vamos ao que interessa. Como todos já devem ter percebido – ou não –, o meu foco nesse blog tem sido majoritariamente sobre os livros. Mas não sei se estou conseguindo fazer um bom trabalho: dependendo do meu humor e do estado cósmico do universo, demoro entre três dias e três meses para conseguir terminar um livro, e isso gera uma lacuna gigantesca entre os posts. Tem horas que o lugar parece literalmente largado às traças. Não é bem assim. Apesar de ser um apaixonado por livros, não devoto minha vida inteiramente a eles. Também vejo filmes, leio quadrinhos, jogo videogame, assisto séries, ouço música, enfim... faço tudo o que uma pessoa normal faz (será?).

Então pensei: ‘já que eu faço tanta coisa além de ler, porque não trazer tudo para cá?’ E hoje pretendo começar a mudar um pouco as coisas por aqui. A começar pelo filme que vi dia desses e decidi que seria uma ótima indicação: ‘A Culpa é do Fidel!’

O que mais me chamou a atenção no filme foi o título bastante sugestivo. Antes de ver qualquer comentário ou sinopse, fiquei com o pé atrás da orelha. Afinal, o que era culpa do Fidel? O socialismo, a morte de Che, os charutos cubanos, a Terceira Guerra Mundial? Curioso, mas ainda assim preguiçoso, esqueci do filme durante um tempo, mas em uma noite absolutamente entediante, decidi que seria uma boa ideia vê-lo.

Não me arrependi. O filme (de origem francesa, a propósito, e não latina, como pode parecer a primeira vista) conta a história de Anna de la Mesa, uma menininha de nove anos que tem tudo o que uma família de classe média dos anos setenta tem: uma casa com um jardim, aulas em um colégio católico, um irmãozinho e uma empregada cubana que tem um ódio mortal de comunistas. Nesse quadro um tanto típico e familiar, Anna tenta se destacar sendo a primeira aluna da classe, a nadadora mais aplicada do time e a menina mais questionadora do mundo. A analogia pode não ser muito adequada, mas não pude deixar de pensar na Mafalda em cenas específicas do filme.

Tudo ia muito bem na vida de Anna até que, um dia, a tia e a prima da menina chegam refugiadas da Espanha, após o assassinato do tio, um militante contra a ditadura de Franco. A partir daí, tudo vira de cabeça para baixo: os pais de Anna, interpretados por Stefano Accorsi e Julie Depardieu, se engajam na causa socialista, obrigando a menininha a rever todos os conceitos sociais com os quais aprendeu a conviver desde que nasceu.

A graça do filme está no tom ingênuo e aborrecido com o qual Anna vê tudo a sua volta mudar: de uma hora para outra, eles se mudam da grande casa para um pequeno apartamento, sempre cheio de homens barbudos e descabelados; Anna é obrigada por seus pais a sair das aulas de religião e não pode nem mesmo ler os gibis do Mickey, considerado por seu pai como “um símbolo fascista de poder”.

Adaptado do romance Tutta Colpa di Fidel, da jornalista italiana Domitilla Calamai, o filme tem momentos engraçadíssimos, como quando a câmera focaliza-se sobre a barba do pai de Anna e ela enfim percebe que ele se tornou um comunista, ou quando uma amiga de Anna, convidada a dormir no pequeno apartamento da menina, vislumbra o pai da garota emburrada trocar de roupa e, pela primeira vez, vê um pênis. Tudo com uma ingenuidade absurdamente verossímil e agradável.

Essa dicotomia surpreendente é o que mais agrada: enquanto todos, nos idos de 1968, queriam as revoluções sociais e as revoluções econômicas, uma menininha aborrecida não vê sentido nas coisas que acontecem, questionando tudo o que lhe cerca. Um filme curto mas divertido, ‘A Culpa é do Fidel!’ é o filme ideal para que os de sangue revolucionário tenham uma visão diferente do mundo, mesmo que sob o foco de uma garota de nove anos.

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Não tive coragem de não postar

Tá ok gente, eu sei que vocês são gente que provavelmente não acredita nessas coisas. Mas eu acredito. Hoje, ao abrir a minha caixa de e-mail, encontrei isso. Eu sei que não é muito a proposta do blog, mas não tive como deixar de postar isso aqui. Aí vai:

“Olá,
Meu nome é Bruna e tenho dezesseis anos. Gosto de trocar mensagens, conhecer pessoas pela Internet e adorei seu blog. Por isso, escolhi você para ser meu novo amigo. Eu acredito que vamos nos dar muito bem.
E para isso acontecer, poste esse email no seu blog. Torça para ter sete comentários, ou então você terá MUITO azar.
Se não postar? Vai ser muito pior. Mas você não faria isso.
Você não recusaria o pedido de uma morta, né?”
Isso pode parecer um pouco estúpido, eu sei. Mas depois de ver o vídeo abaixo, vão entender porque eu tive que fazer isso.

E por favor, COMENTEM, não quero que nada disso me atormente!