sexta-feira, 15 de outubro de 2010

A Culpa é do Fidel!

Bem, sei que estou a um tempo considerável sem postar nada por aqui. Eu devo desculpas aos meus dois leitores e meio e não tenho nenhuma justificativa que não seja preguiça. Mas devo jurar, senão a mim mesmo, pelo menos a vocês que me leem, que pretendo deixar as coisas aqui mais... periódicas. Estou até bolando uma listinha de quando escrever e o que escrever, mas não vou colocá-la agora por ainda estar em fase de teste.

Desculpas colocadas, vamos ao que interessa. Como todos já devem ter percebido – ou não –, o meu foco nesse blog tem sido majoritariamente sobre os livros. Mas não sei se estou conseguindo fazer um bom trabalho: dependendo do meu humor e do estado cósmico do universo, demoro entre três dias e três meses para conseguir terminar um livro, e isso gera uma lacuna gigantesca entre os posts. Tem horas que o lugar parece literalmente largado às traças. Não é bem assim. Apesar de ser um apaixonado por livros, não devoto minha vida inteiramente a eles. Também vejo filmes, leio quadrinhos, jogo videogame, assisto séries, ouço música, enfim... faço tudo o que uma pessoa normal faz (será?).

Então pensei: ‘já que eu faço tanta coisa além de ler, porque não trazer tudo para cá?’ E hoje pretendo começar a mudar um pouco as coisas por aqui. A começar pelo filme que vi dia desses e decidi que seria uma ótima indicação: ‘A Culpa é do Fidel!’

O que mais me chamou a atenção no filme foi o título bastante sugestivo. Antes de ver qualquer comentário ou sinopse, fiquei com o pé atrás da orelha. Afinal, o que era culpa do Fidel? O socialismo, a morte de Che, os charutos cubanos, a Terceira Guerra Mundial? Curioso, mas ainda assim preguiçoso, esqueci do filme durante um tempo, mas em uma noite absolutamente entediante, decidi que seria uma boa ideia vê-lo.

Não me arrependi. O filme (de origem francesa, a propósito, e não latina, como pode parecer a primeira vista) conta a história de Anna de la Mesa, uma menininha de nove anos que tem tudo o que uma família de classe média dos anos setenta tem: uma casa com um jardim, aulas em um colégio católico, um irmãozinho e uma empregada cubana que tem um ódio mortal de comunistas. Nesse quadro um tanto típico e familiar, Anna tenta se destacar sendo a primeira aluna da classe, a nadadora mais aplicada do time e a menina mais questionadora do mundo. A analogia pode não ser muito adequada, mas não pude deixar de pensar na Mafalda em cenas específicas do filme.

Tudo ia muito bem na vida de Anna até que, um dia, a tia e a prima da menina chegam refugiadas da Espanha, após o assassinato do tio, um militante contra a ditadura de Franco. A partir daí, tudo vira de cabeça para baixo: os pais de Anna, interpretados por Stefano Accorsi e Julie Depardieu, se engajam na causa socialista, obrigando a menininha a rever todos os conceitos sociais com os quais aprendeu a conviver desde que nasceu.

A graça do filme está no tom ingênuo e aborrecido com o qual Anna vê tudo a sua volta mudar: de uma hora para outra, eles se mudam da grande casa para um pequeno apartamento, sempre cheio de homens barbudos e descabelados; Anna é obrigada por seus pais a sair das aulas de religião e não pode nem mesmo ler os gibis do Mickey, considerado por seu pai como “um símbolo fascista de poder”.

Adaptado do romance Tutta Colpa di Fidel, da jornalista italiana Domitilla Calamai, o filme tem momentos engraçadíssimos, como quando a câmera focaliza-se sobre a barba do pai de Anna e ela enfim percebe que ele se tornou um comunista, ou quando uma amiga de Anna, convidada a dormir no pequeno apartamento da menina, vislumbra o pai da garota emburrada trocar de roupa e, pela primeira vez, vê um pênis. Tudo com uma ingenuidade absurdamente verossímil e agradável.

Essa dicotomia surpreendente é o que mais agrada: enquanto todos, nos idos de 1968, queriam as revoluções sociais e as revoluções econômicas, uma menininha aborrecida não vê sentido nas coisas que acontecem, questionando tudo o que lhe cerca. Um filme curto mas divertido, ‘A Culpa é do Fidel!’ é o filme ideal para que os de sangue revolucionário tenham uma visão diferente do mundo, mesmo que sob o foco de uma garota de nove anos.

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