segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

O Condenado - Bernard Cornwell


Feliz 2011, meus queridos leitores e amigos do peito. Passei um bom tempo afastado por pura preguiça e falta de tempo para colocar as ideias em ordem e fazer uma resenha coesa, mas estou de volta, dessa vez com um dos autores mais cultuados pelos amantes de romances históricos cheios de guerras, sangue, sexo e lutas por poder: Bernard Cornwell, autor de sagas grandiosas como ‘As Crônicas Saxônicas’ e ‘As Aventuras de Sharpe’.

Dono de um texto limpo e de um estilo que o firma como uma das referências no que diz respeito ao romance histórico, Bernard Cornwell se distancia um pouco de espadas, flechas e castelos em seu romance ‘O Condenado’. Ambientado em uma Inglaterra cinzenta do século XIX, a trama gira em torno do personagem Rider Sandman, um amante de críquete e antigo capitão do exército, que é convocado para investigar as circunstâncias do assassinato de uma condessa por um pintor efeminado. Ele precisa descobrir se o homem (ou ‘a fada’, forma como o suposto assassino é retratado por boa parte dos personagens) realmente estuprou a condessa e depois a matou.

Esse foi o primeiro livro de Bernard Cornwell que li, mas já sabia que ele era uma exceção: eu não veria batalhas épicas nem sangue espirrando páginas afora, mas sim uma trama policial bem amarrada – quem sabe até mesmo requintada – que se ambientava em um cenário diferente do medievalismo de boa parte dos romances do autor britânico. Esse foi um dos fatores que me empolgou a ler o livro: logo de primeira, iria dar de cara com uma faceta pouco conhecida de Cornwell e leria um de seus livros mais diferentes. Não me pareceu um mau negócio.

O começo do livro é empolgante, não há como negar isso. A primeira sequência, que descreve minuciosamente o processo de enforcamento de um personagem que não possui importância nenhuma a trama, é um prólogo apropriadíssimo: sentimos o cheiro pútrido dos porões, nos afligimos pelas súplicas de uma mulher que jura ser inocente e nos enraivecemos pela atitude de descaso e até mesmo divertimento da plebe, que mesmo tendo tão pouco consegue tripudiar de quem tem ainda menos. Tudo muito bonitinho, certinho e amarradinho. Mas então o livro começa.

Não é um livro difícil de ler. Cornwell tem uma escrita leve e fluida, com pouco uso de adjetivos e poucas descrições. Conseguimos nos transportar para a Inglaterra do século XIX sem nos preocupar muito com o cenário, mas sim com a história. Já falei em outro post que gosto quando a história é maior do que a História, então não irei me demorar muito nesse ponto. Vamos a Rider Sandman.

Capitão aposentado depois da Batalha de Waterloo, a construção de Sandman pareceu a mim a joia rara da Inglaterra, o homem bom, justo, incorruptível e sincero, o bonzinho da novela das seis que está lá para defender os fracos e oprimidos para ter como retribuição apenas o sorriso amarelado e a satisfação de ter feito o que é certo. Muito preto no branco, na minha humilde opinião. Sandman destoa de um cenário cheio de escalas de cinza e de personagens que poderiam ter tudo para ser cínicos e fazer escolhas que poderiam beneficiá-los. Ele é bom por ser bom, indefectível porque acredita na justiça. Mesmo com a justificativa dada no livro – o pai dele era um devedor e Sandman não queria continuar com aquela imagem estigmatizada – acho que o personagem poderia ser um pouco mais... humano.

Já em contraponto, temos Sally Hood (o sobrenome não é coincidência. Ela É irmã de Robin Hood – sim, no século XIX), uma garota que se vira como pode para ganhar o seu dinheiro da forma que acha mais digna – como, por exemplo, posar nua para servir de modelo de peitos para os pintores das condessas – e que é, para mim, a diversão de todo o livro. Boca suja, cheia de opiniões particulares e algumas vezes hilárias, ela também cai naquele estereótipo de ‘mulher que não está nem aí pra sociedade inglesa conservadora’, mas consegue se sair melhor do que Sandman. Ponto positivo.

A trama em si não traz muita empolgação: os personagens secundários – suspeitos do assassinato da condessa – são construídos de forma bastante rápida e insípida. Não consegui sentir simpatia por nenhum deles e achei a justificativa do assassino, ao final da história, a saída mais simples e fácil de ser executada. Quando enfim descobri o que aconteceu, simplesmente virei a página e continuei lendo, sem me emocionar nem um bocadinho.

[OK, SE VOCÊ NÃO QUER OUVIR SPOILERS, PULE PARA O FIM DO TEXTO]

O fim do livro é de prender o fôlego. Falo do finzinho mesmo, daquela parte em que já descobrimos quem é o assassino, mas Sandman ainda tem que correr para libertar o pintor-fada e acusar apropriadamente quem deve ser enforcado no lugar dele. É aquele clima de ‘vambora, Sandman! Cooooorre’ que me empolgou bastante. Ele está a um zilhão de quilômetros de distância e não dá conta de chegar com o cavalo a tempo. O texto vai e volta entre a corrida de Sandman e o pintor sendo executado. O cadafalso abre e o pintor começa a se enforcar, pouco a pouco perdendo a vida.

Parece que NÃO VAI dar tempo, que o livro vai acabar com o cara errado sendo enforcado – não seria um mau final –, mas eis que uma das cenas mais diarreia mental que eu já vi na minha vida tem início: o ROBIN HOOD aparece para salvar o dia. Vem entre a plebe correndo enquanto Sandman tenta abrir caminho para entregar a confissão de uma testemunha ao juiz, e simplesmente corta a corda que prende o pescoço do pintor e salva o dia.

Ok, eu já aturei a liberdade poética de usar o Robin Hood no século XIX, mas agora querer que eu aceite esse Deus ex machina cagado? É abusar demais da inteligência do leitor, tio Cornwell!

[/PRONTO, JÁ ROLOU O DESABAFO, PODEM LER A PARTIR DAQUI]

O que fica de ‘O Condenado’ é um gostinho de que o livro poderia ter sido mais bem executado. Os personagens poderiam ter sido mais bem explorados e cativar um pouco mais o leitor, sobretudo os secundários. Alguma motivação poderia ser dada para Sandman [MAIS UM SPOILERZINHO] pô, o cara recusa um suborno de sei lá quantas mil libras que podem acabar com todos os problemas dele a troco da justiça às últimas consequências [/ACABOU O SPOILERZINHO] e a trama podia ter um final um pouco mais inteligente.

É isso aí, espero que tenham gostado. Até a próxima. E comentem :)

2 comentários:

  1. eu nem lembro o final -q
    mas eu gostei do livro

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  2. Boa resenha!
    Ainda não li "O Condenado", então pulei as partes com spoiler. Hehehe!
    Pô, eu gosto bastante dos livros do Cornwell, embora reconheça que ele dê uns moles. De qualquer forma, para mim, é uma leitura extremamente agradável. Ele me faz agarrar o livro e não soltar, saca?
    Uma dica: leia Stonehenhe. É outro livro dele que sai um pouco do comum. Além de passar em uma época beeem antiga, não tem muita guerra, etc. Para mim, o melhor livro dele.

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